quarta-feira, 31 de julho de 2013

Carta a quem atropela animais


Sou pequeno, magro, perambulo nas ruas, estradas e avenidas a procura de algo que não  sei o que é... sei que existe, mas  ainda não conheço. Caminho, passo  sede, frio e fome. Não tenho segurança ou conforto ao dormir.
Você nem me percebe nas ruas. Ao passar por mim no conforto de seu carro, nem desvia, calcula rapidamente o estrago que eu possa vir a fazer, nos gastos que bater em mim vai ocasionar.. .Como o que  move você é o interesse, o dinheiro  e o poder, calcula que o impacto de meu corpo em seu carro não vai lhe causar  prejuízo. Acelera  então.  O baque  vem. Em você, nada  acontece. Nem um músculo de seu  rosto se  move. Mas a dor me rasga e eu não morro na primeira batida. As vezes  me arrasto ate o acostamento e ali me deixo ficar ate que na companhia  do sol quente  ou  da noite fria  eu morra aos poucos com  muita dor, sem ajuda ou companhia de ninguém numa miserável agonia.
 Noutras vezes, rolo, me bato por baixo do carro e fico tonto. Tento me erguer, sair dali, lutar pela minha vida. Cambaleante, com as patinhas pro ar ou tentando mesmo me arrastar ate o acostamento, tento viver,mas logo vem um  outro carro  e quem esta ao volante é outro igual a você. E por ser igual, passa por sobre o meu corpo sem qualquer compaixão. Por um momento pensa nos pneus do carro que ficarão manchados  de sangue. Mas é só isso. Mais nada.
Meu corpo agora não é mais nada. Uma massa  de carne esmagada no asfalto . Como um dia  o seu também será, apodrecido dentro de um caixão de madeira.  Minha carne triturada no asfalto não seria diferente da sua se fosse  você em meu lugar. Um humano ali atropelado apresentaria a mesma cor de carne, a mesma matiz do sangue, a mesma dor.

Somos iguais na carne. Somos iguais no sangue. Mas não somos iguais na índole. Não sei de que substancia  você é feito. Eu sou feito de carne e ossos. Em meu peito bate um coração onde guardo amor, compaixão e toda a sorte de sentimentos bons.
 Não somos iguais em essência. Ao atravessar o portão da vida e entrar na morte, levo comigo o bem, enquanto você leva tatuado em seu espírito toda crueldade, toda a torpeza de seus valores e sentimentos.
Somos iguais na carne e no sangue
Somos iguais  na dor e na alegria.
Somos iguais  no frio  e na fome.
Mas somos diferentes no respeito ao próximo, seja ele rico, pobre, feio, bonito, animal humano  ou  não humano.